quinta-feira, 26 de março de 2015


APRENDER A SER E A CONVIVER COM OS OUTROS 

DOIS PILARES FUNDAMENTAIS DA EDUCAÇÃO E DA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO MUNDO

   Como descrevemos anteriormente, através da análise da dinâmica do MAPA SOCIOMÉTRICO passamos a refletir e a estudar a natureza das relações humanas e sua importância na formação de um novo paradigma em direção a um novo mundo. A crise que vivemos atualmente, segundo o instituto ARI*, está dentro de nós e nos relacionamentos entre nós. Segundo ele:

   "A Natureza funciona em harmonia e equilíbrio e agora depende de nós mudarmos a nós mesmos, os nossos relacionamentos e como resultado, os sistemas que construímos, incluindo o sistema sócio-econômico, para sermos equilibrados e harmoniosos como a Natureza. Ao mesmo tempo, contudo, as nossas relações humanas são ainda baseadas em valores individualistas. Elas são inerentemente egocêntricas e competitivas e mudaram muito pouco nos vários séculos passados. Naturalmente, dado que a economia reflete essas relações entre nós, ela também reflete estes valores. A mudança é inevitável, ela não pode ser impedida. Quanto mais o negamos, mais experimentaremos a mudança como uma crise. Mas se em vez disso chegarmos a perceber o sentido da mudança e fizermos as mudanças necessárias, a sensação de aflição abrirá caminho para a esperança e prosperidade, para a harmonia e paz entre as pessoas e entre a humanidade e a Natureza."

  Aprender a conviver e a ser (pilares definidos pela UNESCO) são imprescindíveis para esta mudança. Ao estudarmos as relações de liderança em contraposição ao antigo modelo do “Chefe”, bem como a importância do trabalho em equipe, da inteligência emocional e das características que formam o líder, verificamos que estas são indispensáveis para a melhoria das relações humanas, buscando a construção de um novo mundo mais humano e solidário. Com este estudo, constatamos que a maioria das características do Líder coincidem, de forma geral, com aquelas que definem o Mapa convergente. Portanto, o líder é aquele que conquista a liderança através de uma relação horizontal, de confiança e credibilidade. Ele tem “crédito” e, por isso, é aceito e suas ideias são respeitadas pela maioria. Diferente das relações de liderança, o “Chefe” é aquele que se impõe, através de uma relação vertical, a partir de atitudes baseadas no poder/força X Medo. Este modelo representa o paradigma mais comum de nossa história, por isso, está refletido na representação do mundo que os alunos vivem.
Do livro: O PROFISSIONAL DO SÉCULO XXI 
Como o objetivo do curso, acordado no início do ano, é construir um novo paradigma é necessário propor atividades e dinâmicas para que possamos provocar a reflexão e revisão de conceitos e padrões, muitas vezes aprendidos, que constituem a nossa maneira de ser e conviver. A partir daí podemos pensar e experienciar novas propostas/ideias que norteiem novas ações/atitudes para transformar realmente o mundo que "damos conta", onde nossa a ação é eficaz, como, por exemplo, nossa sala de aula. Desta forma, propomos uma nova forma de se relacionar conosco mesmos, com o outro e com o ambiente.
   Para atingir tal objetivo, desenvolveremos uma série de dinâmicas em equipe e atividades expressivas visando uma melhor aproximação entre os alunos e estudando, na prática, sobre as relações humanas. 
   Ao longo deste 2º semestre a proposta é conseguir, ao final do ano, um Mapa Convergente. Durante as aulas e trabalhos é necessário estar sempre atento aos conflitos e dificuldades que se apresentam, buscando uma reflexão e análise das possíveis causas de desentendimentos ou fracassos. Trabalhar com dinâmicas em sala de aula não é proporcionar momento de “passa tempo” ou diversão. É importantíssimo realizar um feedback com os alunos daquilo que foi observado. Verificar se os objetivos foram alcançados, quais foram as dificuldades, etc. É nesse diálogo que aprendemos a nos auto avaliar e avaliar a equipe, a reconhecer nossos limites e vislumbrar alternativas de superá-los.
   Costumo sempre dizer aos alunos que só aprendemos sobre gente e a lidar com pessoas, na prática, nos envolvendo, discutindo, colocando nossas opiniões, conversando, respeitando (lembro-os que para respeitar não precisamos gostar da pessoa) e ouvindo o outro (ouvir o outro não é concordar com ele é compreendê-lo).
   Através das dinâmicas, pude constatar um outro problema nos relacionamentos entre os alunos: uma competitividade bastante acirrada, fruto do paradigma educacional da busca do êxito e do sucesso representado por um número(nota). "Ter" nota, como se o número fosse o significado de “ser” melhor. Esta disputa por nota também se reflete hoje em dia nas propagandas das escolas onde destacam-se o número de alunos aprovados em vestibulares ou a média conquistada em exames nacionais. Da mesma forma, nestas escolas, a verdadeira qualidade na educação não está representada nestas "notas" ou índices. 
  Ao constatar esta situação lembrei-me do prefácio de Harbans Lal Arora, da Universidade Federal do Ceará, no prefácio do livro: Escola Vila -Construindo um Mundo Melhor, de Fátima Limaverde , de onde subtraio a seguinte citação:
   “O desenvolvimento integral de um país depende principalmente da educação formal e informal dos seus cidadãos, infelizmente, nosso sistema de educação em vigor incentiva e supervaloriza a fragmentação, a intelectualização e competição agressiva. Treinam-se pessoas pouco preparadas para uma vida plena e harmonizada consigo, com os outros e com a natureza”
   Ao analisar com meus alunos o que na verdade significa a nota máxima obtenho as respostas de que  esta nota representa uma boa capacidade de memorizar conteúdos, ou até mesmo que houve aprendizagem destes conteúdos, ou, na pior das hipóteses, o aluno colou bem ou teve sorte!
   Neste caso, na verdade,  a nota é apenas um aspecto quantitativo que representa o velho paradigma do TER e não do SER. Os aspectos relacionados ao Ser e ao Conviver, que são significativos para a transformação do mundo, são pouco ou nada avaliados e considerados na avaliação escolar. Já Daniel Goleman, no livro Inteligência Emocional considera as pessoas bem preparadas emocionalmente de “emocionalmente inteligentes”, pois são capazes de controlar seus estados emocionais, têm mais facilidade de concentração, compreendem melhor os outros, tem mais facilidade para fazer amigos, e também têm um melhor desempenho escolar.
   Cabe ressaltar que, para uma grande maioria de alunos, o ensino médio significa apenas uma forma de acesso ao mercado de trabalho. O objetivo, para eles, é enfrentar a pressão e cumprir com a série de tarefas e avaliações que sofrem de cada disciplina para adquirir um diploma e ter pelo menos a garantia de um bom emprego. Mas isso não é garantia de sucesso no mundo do trabalho ou mesmo na vida. Aliado a esta pressão o ser humano ainda é induzido a buscar a felicidade fora de si mesmo. Sem compreender a transitoriedade da vida, empenha-se prioritariamente na conquista de bens terrenos, atuando num ambiente de comparações e competição, sempre se avaliando em relação aos demais onde importa o ter, não o ser. 
   A cultura tem muito a ver com a competição, e em nossa cultura é grande a competição por tudo; vence o cara que tem mais dinheiro e poder. (Marie Nathalie Beaudoin no livro “Bulling e Desrespeito"). 
 "Atualmente as escolas no mundo desenvolvido estimulam a competitividade entre as pessoas, sobrecarregando os estudantes com inúmeros exercícios de pouca utilidade prática, exercendo forte pressão cerebral para o raciocínio calculista, em detrimento da parte interior do ser humano".(Benedicto Ismael Camargo Dutra em Cultura da Competividade)
   Vicki Abeles, advogada e autora do documentário Race to nowhere (Corrida para lugar nenhum) afirma que "ENSINAR agora é preparar para fazer prova. Não temos mais uma base curricular diversificada. Artes e educação física foram reduzidas ou eliminadas. E isso não funciona. Ainda temos falhas de aprendizado. A qualidade do aluno que chega à universidade é ruim e a evasão alta. Temos de fugir do modelo baseado em alto desempenho em avaliações e dar aos professores a chance de aplicar um currículo e provas que funcionem para as crianças. A verdade é que criamos um sistema que desvia a atenção do que é realmente importante. Queremos desenvolvimento acadêmico, é claro, mas também social, emocional e criativo. Acho que devemos lembrar que há outras habilidades na vida, inclusive cometer erros. Então deveríamos nos perguntar se ficar acordado durante horas à noite fazendo lição de casa, ou contratar um exército de professores particulares, vai ajudar em alguma coisa."
 Para o famoso sociólogo suíço Philippe Perrenoud a avaliação se materializa na nota, objeto de desejo e sofrimento dos alunos, de suas famílias e até do próprio professor: "Predomina nessa lógica o viés burocrático que empobrece a aprendizagem, estimulando ações didáticas voltadas para o controle das atividades exercidas pelo aluno, mas não necessariamente geradoras de conhecimento."
   Para Hamilton Werneck é necessário que as escolas estejam centradas na pessoa do aluno, muito mais que nos programas e conteúdos. É importantíssimo ensinar a pesquisar e fazer projetos, trabalhar em equipe e superar o medo. Cabe às escolas mudar totalmente o seu sistema examinador para um sistema de avaliação do rendimento escolar.
 Marlene Lucia Siebert Sapelli, professora da Unicentro do Paraná, afirma que "nossas concepções de homem e de mundo regem nossa prática pedagógica e conseqüentemente dão base ao nosso  modelo de avaliação. Nós pretendemos controlar o aluno e os órgãos oficiais pretendem controlar nossa ação.  Esta forma de avaliar não  tem como objetivo real "qualificar" a educação formal oferecida. Tem apenas a intenção de controlar e fornecer dados para organizar estatísticas. O professor preocupado em entregar suas notas à secretaria e os órgãos oficiais em fornecer dados aos organismos financiadores que justifiquem os empréstimos feitos."
   Novamente chegamos a visão de mundo e sua importância com as propostas das nossas aulas de artes que Marlene ainda pode nos auxiliar quando complementa: "As concepções que temos de homem e de mundo são construídas no nosso próprio processo de construção como sujeitos sociais e históricos e alterar este curso exige de nós uma desequilibração das nossas convicções e um repensar. E este processo, às vezes, é doloroso demais". E, compartilhando suas ideias, concluo este post:
   "Se não acreditamos na possibilidade de transformação da realidade, não deveríamos estar no magistério, pois ser professor é essencialmente acreditar na possibilidade desse vir-a-ser". É não perder a capacidade de questionar e aprender sempre. É reconhecer que quando mudamos a nós mesmos e a natureza de nossas inter relações, mudamos nossa prática pedagógica e quem sabe, os destinos daqueles que estão à nossa volta!
   Quando não abandonamos o sonho e desenvolvemos a capacidade de sonhar de nossos alunos podemos construir, juntos, uma nova realidade!

(*) - O Instituto ARI é uma organização sem fins lucrativos dedicada a promover mudanças positivas nas políticas e prática da educação através de ideias e soluções inovadoras para os problemas mais urgentes educacionais do nosso tempo. O ARI apresenta uma nova maneira de pensar ao explicar os benefícios de reconhecer e implementar as regras de um mundo interdependente e integrado.
http://ariresearch.org/pt/sobre-o-instituto-ari

(*1) - O professor e pedagogo Hamilton Werneck imaginou este livro para profissionais interessados no crescimento pessoal e no desenvolvimento de valores compatíveis com seu tempo. O profissional do século XXI é um livro para um novo tempo e para pessoas que desejam ser cada vez mais atualizadas e felizes. Mais informações em:  http://www.record.com.br/autor_entrevista.asp?id_autor=3018&id_entrevista=266

(*²) Conheça mais sobre o trabalho de Fatima Limaverde através da entrevista disponível em:


(*³) Texto completo de Marlene Lucia Siebert Sapelli: A SUPERAÇÃO DA SUPREMACIA DA AVALIAÇÃO QUANTITATIVA SOBRE A AVALIAÇÃO QUALITATIVA. Disponível em :
http://pedagogia.tripod.com/superacao.htm


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