quinta-feira, 26 de março de 2015

AULA - 3        DINÂMICA 2 - 1º Bimestre

Dinâmica sobre Visão de Mundo

        Levo para sala: revistas, colas, tesouras, materiais para desenhar, cartolinas  e jornais
Trabalho em equipe - 1º informática- 2013
atuais. Divido a sala em grupos de trabalho. Na verdade, sempre divido a turma para que os alunos deixem de se agrupar de acordo com suas escolhas, o que muitas vezes acarreta as conhecidas "panelinhas". Analiso com eles que, se formos escolher, nós nos agrupamos por semelhança e  afinidades como, por exemplo: os que gostam de estudar, os que gostam de conversar, os que são da mesma escola de origem etc, etc. E, quando eles mesmos se dividem, fica sempre um pequeno grupo, ao final, como "excluídos". Segundo a análise da turma, eles são os que perderam crédito entre eles, por não gostarem de trabalhar, ou, por não serem muito conhecidos, ou são fechados, ou são aqueles que são os "chatos". Por isso, divido a turma chamando a  atenção para a necessidade de aprendermos a trabalhar com o diferente de nós, aquele que não quer trabalhar ou o que tem dificuldades para realizar o trabalho. Na verdade, esta vai ser a realidade pessoal e profissional  que vamos enfrentar na vida.
A proposta desta dinâmica é representar recortando, colando figuras, desenhando ou escrevendo, como eles veem o mundo que vivem e, no mesmo cartaz,  representar como seria o mundo que eles desejariam viver. Uma outra atividade paralela a esta, é uma análise, em geral, das notícias publicadas nos jornais. A equipe deverá apresentar um gráfico que demonstre, segundo opinião dos componentes, se o homem está evoluindo ou não.
O resultado é impressionante (Vejam as fotos abaixo  e nesta imagem postada neste blog).


Visão do mundo em que vivem
Há 10 anos aplico esta dinâmica e o resultado é sempre o mesmo. As imagens representativas do Mundo em que eles vivem é sempre marcada por cenas de violência, consumo, drogas, pobreza, preconceito, desastres ambientais, guerras, etc., ou seja, mostram sempre o aspecto negativo das relações humanas. No cartaz do mundo que desejariam viver aparecem imagens positivas como: amor, solidariedade, lazer, arte, sustentabilidade, igualdade social, etc. O resultado da análise da notícias também reforça este quadro. 
Reportagens que mostram a não evolução do homem, segundo eles, são em maior número do que as neutras (notícias indefinidas e propagandas) e daquelas que mostram aspectos positivos.
Visão do mundo que idealizam
Análise de Jornal de grande circulação nacional
Abril de 2013
 Após a apresentação em equipe dos cartazes e gráficos, iniciamos uma reflexão profunda sobre a forma como estes adolescentes vêem o mundo:
- Por que a visão é tão negativa?
Segundo eles, a televisão jornais e algumas revistas estão sempre dando destaque a tragédias o que dá a impressão que "o mundo está horrível". O medo, a desconfiança e a sensação de impotência são os sentimentos mais identificados por eles como consequência desta mídia sensacionalista. Alguns alunos chegam a comentar que: " a vida é assim mesmo, não dá para mudar o mundo...", muitos dizem que "nunca pararam para pensar nisto" ou "ninguém nunca nos falou sobre isto". 
Este cenário me remete a um artigo publicado numa revista de psicologia , página 156, que menciona:  
"Com a sociedade neoliberal, sob a ênfase do mercado e do consumo, envolvida nas questões tecnológicas e nas mudanças do padrão social e culturas das massas, a juventude vem sendo colocada em situação de grande vulnerabilidade social. Nascimento (2002) considera que os jovens parecem se encontrar encurralados dentro de condições sociais que aumentam em muito sua vulnerabilidade. Afirma: As representações sociais que se formam a partir das inúmeras informações, mediadas sobretudo pela mídia, não fornecem condições para que o adolescente planeje e articule ações como uma forma de superação da condição ou situação vivida, uma vez que estas informações se destinam muito mais à construção de modelos estereotipados de comportamentos para atender as demandas de consumo. Calligaris (2000) também tem refletido sobre a influência da pós-modernidade e do neoliberalismo sobre a emergência da adolescência. Para ele, a juventude tem sido investida de um imenso valor de consumo, sendo eleita como ideal de vida. Assim, a indústria de consumo  não só absorve como investe em valores e estilos adolescentes, elastecendo mais e mais esta fase e tornando cada vez mais difícil se afastar do desejo adulto da adolescência. Como diria o autor, “a adolescência, por ser um ideal dos adultos, se torna um fantástico argumento promocional”. Como a adolescência assume o ideal social, fica difícil sair deste lugar. Fica difícil e custoso envelhecer, quando a aspiração social é habitar a adolescência."
Pesquisa sobre o interesse dos jovens por política
 Fundação Perseu Abramo
      Se adolescentes de 15 a 17 anos já perderam a esperança e estão desmotivados o que será do mundo quando eles forem adultos? Esta deveria ser a idade dos sonhos, de acreditar, lutar por uma causa e participar de movimentos sociais ou políticos como faziam os jovens de gerações anteriores. O que vejo à minha frente são jovens alienados das questões sociais e políticas. Não se interessam e não participam destas questões, como vemos, ao lado,  nesta pesquisa publicada na revista Veja de 02/08/00.
 A vivência social e política também não são estimulados em nossa cidade pois, não há estímulo à formação de grêmios estudantis, espaço onde eles poderiam estar experenciando estas ações e ou discutindo ideias e propostas de mudança. 
    Esta visão de mundo é o resultado de um direcionamento e manipulação provocados pela mídia que busca apenas aumentar sua audiência através de notícias sensacionalistas. Se nos prendermos e, pior, acreditarmos nesta única visão de mundo, se nos mantivermos "distraídos" de nossa realidade mais próxima, parecerá lógico sentirmo-nos impotentes e desesperançados em relação ao ser humano e seu futuro. Segundo Rubem Alves esta "Distração é atração por um outro mundo. Se os professores entrassem nos mundos que existem na distração dos seus alunos, eles ensinariam melhor. Tornar-se-iam companheiros de sonhos e invenção."
Precisamos, educadores e alunos, mudar o foco direcionando-o para o mundo em que nossa ação pode fazer a diferença, ou seja, contextualizar,  trazer a nossa percepção para a realidade mais próxima de nós como, por exemplo: nossa casa, rua , bairro, escola, sala de aula, etc. Quando olhamos a nossa volta, percebemos que o mundo que queremos está aí e o mundo que é divulgado nem sempre se configura nas proporções anunciadas pela mídia. Enfim, refletindo sobre nossa percepção de mundo, chegamos ao momento em que precisamos decidir de que lado queremos estar: permanecermos com esta visão negativa, colaborando na manutenção do mundo/paradigma divulgado ou acreditarmos em outra forma de ver ou viver, colaborando na construção de um mundo possível. Quando não tomamos uma "posição" ou nada fazemos em relação a isto, o mundo/paradigma continuará como está. Seremos omissos, alienados e acomodados. Na verdade, esta não é uma postura de uma verdadeira educação. Acredito que a função da escola não é repetir o mundo retratado pelos meios de comunicação de massa mas, levá-lo para a sala de aula, para ser questionado, pensado e analisado, para que, desta forma, possamos atuar nele, através de todo o conhecimento adquirido, de forma criativa, solidária e, principalmente,  acreditando que um novo mundo é possível.
Tendo em vista os paradigmas acima mencionados, podemos traçar ou apresentar este quadro comparativo para  visualizar melhor os diversos tópicos que, conforme a turma, podem direcionar as discussões e análises:
Adaptação da apresentação da OSCIP FELIZCIDADE de Leopoldina/MG
Esta aula, sobre a visão de mundo,  é fundamental para que eu possa traçar, junto a minhas turmas, qual vai ser o direcionamento do nosso curso de artes. Coloco duas propostas para votação e análise: 1- Manter o paradigma, representado à esquerda do quadro, realizando atividades como as que eles já conhecem nas escolas anteriores e que já foram registradas neste blog na etapa do traçado do perfil do aluno (Neste paradigma a arte é tratada como fim). 2- Apresento a opção de inovarmos, realizando atividades em artes que promovam a transformação deste mundo mais próximo.(Neste paradigma a arte é tratada como meio).
Para mediar a votação escolho dois alunos que irão "advogar" as opções. Assim a decisão cabe a eles - experimentar uma proposta totalmente nova ou permanecer no mesmo modelo de aula de artes, já conhecido por eles. Nestes anos todos, a nova proposta é sempre a mais votada e, a partir do resultado, estabeleço um compromisso "entre as partes" de experimentarmos, estudarmos e desenvolvermos este novo paradigma, pelo menos durante as aulas de artes. Portanto, a partir desta escolha,  comprometemo-nos com a construção de um espaço de autoria que desenvolva a reflexão, percepção, expressão, solidariedade, criatividade e outros aspectos necessários à construção deste novo modo de se relacionar conosco mesmos, com os outros e com o ambiente,  através de diversas atividades que promovam a aprendizagem vivencial.
 Nesta forma de aprendizagem, conforme descreve o estudioso do assunto, David Kolb, o processo de aprendizagem é uma situação ativa, viva e que, portanto, privilegia a experiência prática e a vivência do aluno, tornando mais frutífera a estruturação do conhecimento. O aluno é agente ativo e parte indissociável neste  processo. Seguindo este princípio, as dinâmicas ou trabalhos artísticos promovem uma VIVÊNCIA, que, após concluídos, desencadeiam um relato dos sentimentos, emoções e reações em relação a vivência; A partir daí podemos realizar uma avaliação da própria participação na vivência; É o momento em que checamos nossas leituras de mundo e convicções; nos deparamos com pré conceitos, reforçamos e revemos conceitos, onde estabelecemos o compromisso pessoal com as mudanças percebidas como necessárias, tendo em vista o acordo estabelecido.

 http://www.revispsi.uerj.br/v7n1/artigos/pdf/v7n1a13.pdf  
CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. 
NASCIMENTO, I. P. As representações sociais do projeto de vida dos adolescentes: um 
 estudo psicossocial. 2002. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação, PUC de São Paulo.




** ALVES, Rubem.Texto disponível em  Ensinar, Cantar, Aprender - p 31



Para aprofundar mais sobre as relações entre educação e "um novo mundo possível" :
- Acesse : Leonardo Boff - Forum Mundial de Educação : Parte 1 , Parte 2, Parte 3 e Parte 4
- Acesse: Texto de Moacir Gadotti, incluído neste Blog: Fórum Mundial de Educação: Origem, Projeto e Consolidação

Outros textos complementares de minha autoria:
Educação pela arte
Relato de experiência
Consumistas ou cidadãos, o que somos afinal?

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