quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Educação pela arte: uma reflexão sobre a formação do adolescente empreendedor.


  RENATA LIMA E ARANTES - Professora de Artes e coordenadora do Projeto de Extensão Social (Grupo Folclórico Assum Preto) do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – Campus III Leopoldina
 O profissional de hoje precisa ter perfis multifacetados, ser polivalente, descentralizador, estar capacitado para aprender a aprender, trabalhar em equipe, ter autonomia, realizar suas funções com competência e principalmente ser empreendedor.
Ser empreendedor, característica tão ressaltada neste início de século pelas empresas, mas, distante do perfil da maioria dos brasileiros e da realidade educacional de nossas escolas.
Desenvolver este homem empreendedor é trabalhar atitudes. O sucesso está atrelado a questões de comportamento e da qualidade das relações entre o homem e seus  semelhantes.
É possível formar estes líderes empreendedores? Qual o papel da educação profissional e tecnológica nesta formação? Esta questão não pode ser respondida sem uma análise crítica da realidade em que vivemos.
Adolescentes desatentos, desinteressados, que perderam o prazer de aprender, de perguntar, com sua inteligência aprisionada e sua criatividade bloqueada, refletem uma sociedade enferma e causadora de enfermidades. Encontram-se numa escola, que não os considera como autores de sua própria história, que não os auxilia a ser cidadãos participativos e capazes de interferir no meio, ou seja, pessoas capazes de pensar, de criar ou de empreender algo.
Professores desvalorizados e desmotivados, distantes de seus alunos, repetidores de suas práticas não empreendedoras, convictos em suas certezas, que não oportunizam uma reflexão sobre seus próprios mecanismos de aprendizagem, o que possibilitaria o cair das máscaras que, durante seu processo de formação, teve que vestir para dar conta de um modelo social existente.
Esta realidade educacional, em geral, é fruto de uma postura que se concentrou demasiadamente no pensamento convergente, repetitivo, que mostra apenas uma resposta, aquela considerada correta pela sociedade, salientando que, para cada pergunta só há uma resposta correta, desestimulando dessa forma o desenvolvimento do pensamento divergente, verdadeiramente criador e empreendedor.
Os alunos adolescentes que ingressam nas escolas técnicas de nível médio não são muito diferentes dos professores, frutos de uma educação segmentada, que investiu muito na mente e pouca coisa na emoção e corpo. Para dificultar, as escolas públicas carecem de infra-estrutura e apoio para a construção de um ambiente saudável, onde o jovem entre em contato com todas as dimensões do conhecimento: o saber, o saber fazer e o saber ser.
Convivendo há 22 anos com alunos adolescentes no Cefet MG / Leopoldina, percebemos que não se forma um empreendedor sem uma cultura empreendedora em sala de aula. É um novo paradigma na contramão da realidade destes alunos. Nota-se entre eles uma série de dificuldades relacionadas às relações interpessoais. Possuem dificuldades em lidar com seus sentimentos, emoções, em se comunicar e relacionar com o outro. É constante entre eles a timidez, vergonha e o tal medo de “pagar mico” que nada mais é do que a falta de coragem para criar e ser quem realmente é. O ensino de artes na maioria das escolas tornou-se conteudista como as outras disciplinas, o que acarreta a cultura da não participação. Situação que é agravada pelo não envolvimento em alguma causa. Em Leopoldina, 70% dos alunos que ingressam na Uned não participam de atividades culturais ou sociais na cidade. Tendo em vista esta realidade, percebe-se que os requisitos básicos para ser um empreendedor, um líder ou um ser humano participativo, construtor de seu próprio projeto de vida, não estão presentes na formação destes jovens. A educação em geral e principalmente o ensino de arte, melhor ferramenta de desenvolvimento humano e de libertação dos grilhões que nos são impostos ou que  nós mesmos criamos, não está cumprindo seu papel.
Proporcionar aos adolescentes vivências que permitam liberar a criatividade através de experiências artísticas estimulam seu sentido crítico e conduzem a formas diferentes de ver o mundo. A construção do saber torna-se desafiadora e prazerosa. O aprendizado é vivenciado através da cooperação e da integração; as decisões do que criar em grupo são negociadas, refletidas; os conflitos são trabalhados. O adolescente se sente mais seguro e aprende a confiar no grupo a que pertence, encontra espaço para revelar suas dificuldades e dialogar espontaneamente sobre suas questões pessoais, contribuindo desta forma para a integração da sua existência interior e para a construção psicológica da sua personalidade.
A disciplina Artes na Uned Leopoldina, através da educação vivencial/participativa, é baseada inicialmente em dinâmicas e reflexões que visa o desaprender velhos paradigmas que aprisionam a inteligência e bloqueiam a criatividade. Vencida esta etapa, os alunos estão preparados para o fazer criativo em qualquer linguagem.   Ressalta-se que esta produção artística é um meio de refletir o ser humano e suas relações interpessoais e não um fim, um trabalho para ser avaliado.
A educação pela arte, com suas inúmeras possibilidades interdisciplinares e transversais, é fundamental na educação de um país que queira se desenvolver. Aliada a uma metodologia inovadora, torna-se mais do que um conteúdo, torna-se uma ferramenta que representa o melhor trabalho do ser humano.


-In: MARIA ADELIA DA COSTA, MARIA RAQUEL BAMBIRRA, EDUARDO HENRIQUE LACERDA COUTINHO. (Org.). CURRÍCULO INTEGRADO. 1ed.BELO HORIZONTE: CEFET-MG, 2011, v. 1, p. 01-170.

Nenhum comentário:

Postar um comentário