RENATA LIMA E ARANTES - Professora de Artes e coordenadora do Projeto de Extensão Social (Grupo Folclórico Assum Preto) do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – Campus III Leopoldina
Ser empreendedor,
característica tão ressaltada neste início de século pelas empresas, mas,
distante do perfil da maioria dos brasileiros e da realidade educacional de
nossas escolas.
Desenvolver este homem empreendedor é trabalhar atitudes.
O sucesso está atrelado a questões de comportamento e da qualidade das relações
entre o homem e seus semelhantes.
É possível formar estes líderes empreendedores? Qual o
papel da educação profissional e tecnológica nesta formação? Esta questão não
pode ser respondida sem uma análise crítica da realidade em que vivemos.
Adolescentes
desatentos, desinteressados, que perderam o prazer de aprender, de perguntar,
com sua inteligência aprisionada e sua criatividade bloqueada, refletem uma
sociedade enferma e causadora de enfermidades. Encontram-se numa escola, que
não os considera como autores de sua própria história, que não os auxilia a ser
cidadãos participativos e capazes de interferir no meio, ou seja, pessoas
capazes de pensar, de criar ou de empreender algo.
Professores
desvalorizados e desmotivados, distantes de seus alunos, repetidores de suas
práticas não empreendedoras, convictos em suas certezas, que não oportunizam
uma reflexão sobre seus próprios mecanismos de aprendizagem, o que
possibilitaria o cair das máscaras que, durante seu processo de formação, teve
que vestir para dar conta de um modelo social existente.
Esta
realidade educacional, em geral, é fruto de uma postura que se concentrou
demasiadamente no pensamento convergente, repetitivo, que mostra apenas uma
resposta, aquela considerada correta pela sociedade, salientando que, para cada
pergunta só há uma resposta correta, desestimulando dessa forma o
desenvolvimento do pensamento divergente, verdadeiramente criador e empreendedor.
Os
alunos adolescentes que ingressam nas escolas técnicas de nível médio não são
muito diferentes dos professores, frutos de uma educação segmentada, que
investiu muito na mente e pouca coisa na emoção e corpo. Para dificultar, as
escolas públicas carecem de infra-estrutura e apoio para a construção de um
ambiente saudável, onde o jovem entre em contato com todas as dimensões do
conhecimento: o saber, o saber fazer e o saber ser.
Convivendo há 22
anos com alunos adolescentes no Cefet MG / Leopoldina, percebemos que não se
forma um empreendedor sem uma cultura empreendedora em sala de aula. É um novo
paradigma na contramão da realidade destes alunos. Nota-se entre eles uma série
de dificuldades relacionadas às relações interpessoais. Possuem dificuldades em
lidar com seus sentimentos, emoções, em se comunicar e relacionar com o outro. É
constante entre eles a timidez, vergonha e o tal medo de “pagar mico” que nada
mais é do que a falta de coragem para criar e ser quem realmente é. O ensino de
artes na maioria das escolas tornou-se conteudista como as outras disciplinas,
o que acarreta a cultura da não participação. Situação que é agravada pelo não
envolvimento em alguma causa. Em Leopoldina, 70% dos alunos que ingressam na
Uned não participam de atividades culturais ou sociais na cidade. Tendo em
vista esta realidade, percebe-se que os requisitos básicos para ser um
empreendedor, um líder ou um ser humano participativo, construtor de seu
próprio projeto de vida, não estão presentes na formação destes jovens. A
educação em geral e principalmente o ensino de arte, melhor ferramenta de
desenvolvimento humano e de libertação dos grilhões que nos são impostos ou
que nós mesmos criamos, não está
cumprindo seu papel.
Proporcionar aos
adolescentes vivências que permitam liberar a criatividade através de
experiências artísticas estimulam seu sentido crítico e conduzem a formas
diferentes de ver o mundo. A construção do saber torna-se desafiadora e
prazerosa. O aprendizado é vivenciado através da cooperação e da integração; as
decisões do que criar em grupo são negociadas, refletidas; os conflitos são
trabalhados. O adolescente se sente mais seguro e aprende a confiar no grupo a
que pertence, encontra espaço para revelar suas dificuldades e dialogar
espontaneamente sobre suas questões pessoais, contribuindo desta forma para a
integração da sua existência interior e para a construção psicológica da sua
personalidade.
A disciplina Artes
na Uned Leopoldina, através da educação vivencial/participativa, é baseada
inicialmente em dinâmicas e reflexões que visa o desaprender velhos paradigmas que
aprisionam a inteligência e bloqueiam a criatividade. Vencida esta etapa, os
alunos estão preparados para o fazer criativo em qualquer linguagem. Ressalta-se que esta produção artística é um meio de refletir o ser humano e
suas relações interpessoais e não um fim,
um trabalho para ser avaliado.
A
educação pela arte, com suas inúmeras possibilidades interdisciplinares e
transversais, é fundamental na educação de um país que queira se desenvolver. Aliada
a uma metodologia inovadora, torna-se mais do que um conteúdo, torna-se uma
ferramenta que representa o melhor trabalho do ser humano.
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