quinta-feira, 26 de março de 2015

1ª FASE : Conhecimento da turma e autoconhecimento. Lidando com os "entraves" que nos impedem de expressar, comunicar, pensar criticamente e criar.


Os objetivos desta fase são definidos e direcionados ao desenvolvimento do "autor" e seus aspectos humanos, ou seja,  aqueles próprios do ser, não das técnicas e estudos teóricos do fazer artístico como muitas escolas abordam. Observo que, no início do ano, momento que os alunos não se conhecem ainda, não há um espaço adequado para a autoria. 
A criatividade e a expressão artística tornam-se prazerosos num ambiente de liberdade, quando nos sentimos seguros e auto confiantes, quando não nos importamos com os comentários dos outros ou não tememos nos expor: falando, cantando, dançando, encenando, desenhando etc. Os outros (platéia) e ambiente também influem muito. Por isso, respeito à diversidade de opiniões, preferências, tipo físico, etnias e crenças é exigido e cobrado desde o início das aulas.
Nesta fase, durante todo o primeiro bimestre, proponho atividades e dinâmicas para os alunos se integrarem, socializarem, desinibirem e  refletirem sobre sua realidade pessoal e social. Discutimos  e analisamos  os processos educacionais  por que passamos em todas as instâncias. Principalmente os processos decorrentes das influências da mídia e da sociedade capitalista que influem significativamente na formação de padrões de atitudes consumistas e massificadas. Identificamos também as "algemas" que herdamos, ou mesmo criamos, através destes processos educacionais. Bloqueios que nos impedem de ser o que somos, de manifestar todo o nosso potencial, que nos impedem de expressarmos e criarmos e não mais ficarmos na zona confortável de sermos como a maioria. Precisamos de coragem para ser e criar. A arte, neste caso, colabora neste processo como um meio (de libertação) e não como um fim (de produção).
Para exemplificar melhor, registrei em vídeo alguns depoimentos de alunos sobre a timidez e o resultado, em suas vidas, do desenvolvimento da expressão e criatividade propostos nas aulas de artes:1- Depoimento sobre timidez e outras dificuldades de comunicação

Rollo May, em seu livro "A Coragem de Criar"*, afirma que não existe ser humano que não seja criativo. Os mecanismos psíquicos e sociais que impedem a descoberta e a experimentação da criatividade de cada um são fruto da reação, pessoal e coletiva, contra qualquer nova forma de vida. Por isso, as duas condições para que a capacidade de criar se torne patrimônio comum de todos são a coragem e a liberdade. 
Tendo em vista estas considerações é necessário garantir
aquilo que Alícia Fernandes** considera espaço de autoria, um ambiente propício à expressão e criação, que estimule a coragem de ser e de criar. Pela minha experiência profissional, criar este ambiente não  é fácil. É como andar na "contra mão", refletindo, discutindo e corrigindo posturas padronizadas por uma sociedade marcada pela cultura de massa, pela valorização da cópia de modelos estereotipados, pela crise nos relacionamentos interpessoais, por preconceitos vários, sem mencionar a crise na educação familiar e escolar. Seria mais fácil partir para o ensino de técnicas e conteúdos  artísticos sem se importar com o "autor", o ser humano a minha frente. Enfim, nos posts Aulas, listo uma série de dinâmicas e exercícios que me auxiliam na construção deste espaço de autoria.





* MAY, Rollo. A coragem de criar. Editora Nova Fronteira - Para leitura CLIQUE AQUI:


** A obra de Alícia Fernandéz está expressa nos livros A Inteligência Aprisionada (1987), A Mulher escondida na professora (1991), O Saber em jogo (2001), Idiomas do Aprendente (2001) e Psicopedagogia em Psicodrama (2001). Para conhecer mais sobre a obra de Alicia, CLIQUE AQUI


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